segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

PRODÍGIO - poema de charles simic


Cresci dobrado sobre
um tabuleiro de xadrez.

Adorava a palavra check-mate.

Todos os meus primos pareciam preocupados.

Era uma pequena casa
perto de um cemitério romano.
Aviões e tanques
sacudiam o vidro das janelas.

Um professor de astronomia reformado
ensinou-me a jogar.

Isto deve ter sido em 1944.

No tabuleiro que usávamos,
a tinta estava quase lascado
nas partes pretas.

O Rei branco estava em falta
e teve que ser substituído por.

Disseram-me, mas eu não acredito
que nesse verão testemunhei
homens pendurados em postes telefónicos.

Lembro-me da minha mãe
vendar-me muito os olhos.
Ela tinha um modo de enfiar a minha cabeça
de repente sob o seu casaco.

Disse-me um professor que no xadrez,
os mestres também jogam de olhos vendados,
os maiores deles em vários tabuleiros
ao mesmo tempo.

(1980)

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