segunda-feira, 12 de abril de 2010

um poema p/ alguns diretores de cinema. por rafael nolli, israel faria, isaías de faria, mônica alves costa


bergman vê faces e exprime com luz sua versão.
filma a dor a angústia e o medo
bem em closes.
mostra abismos a que podemos chegar e
o tempo é contado como
uma cáustica lembrança.

antonioni e jarmush podem deixar muita gente
querer sair da sala.
tem incomunicabilidade nossa lá.
trazem uma coexistência e inaceitação,
expressam lentas imagens que
nossa moderna rapidez não admite.

glauber restaura a brasilidade pura do povo.
eufórico, faz em pedaços o paradigma pensante.
cria espaços, deixa novo o cinema, bota a boca no mundo, e
denuncia a sórdida política e a massa manipulada.
é utópico (?) relutante e cheio de algoz vontade
de quebrar algemas rústicas imperialistas.

zé do caixão pavimenta caminhos sombrios,
com pouca argamassa nos leva ao inferno.
mostra a noite estranhamente escura,
um pouco mais densa que o sangue -
onde homens ou outra coisa,
se devoram esfomeados, até a alma.

einsenstein revela não só o homem
e a máquina que o oprime :
apresenta o povo e a notável ferramenta
que o liberta. a beleza no céu de outubro
incrivelmente vermelho
sobre os operários em greve.

kim ki-duk no arco das estações aponta
para uma ilha onde habita o insólito (animais selvagens),
onde a casa vazia tem endereço desconhecido & o
tempo não é nada samaritano,
onde sem fôlego acordamos de um sonho no meio de
um mosaico de imagens esdrúxulas.

béla tarr olha para a danação com vagar atípico,
as personagens solidificam na desgarrada solidão,
no p&b panorâmico caminha em silêncio,
enxergam suas monstruosidades no olho do ancestral,
irimiás discursa diante do corpo da menina suicida.
extemporâneo e harmônico tarr nos (des)concerta.

fassbinder e suas inúmeras querelas,
tanto desespero,
tanta violência, sexo...
rainer é incômodo, é visceral,
é um estrebuchar com a faca na barriga, um afronto,
furor e as iminentes lágrimas amargas.

alfred hitchcock nos desperta com seu suspense
carregado de tons claro-escuros
mesclando com diálogos manipuladores
onde o desfecho de um crime
é feito com arte, com sutileza
dando um novo sabor ao gênero.

alejandro gonzalez iñárritu nos conecta ao próximo.
inconsciente e independente do espaço
recria uma sensação dupla
de esperança e sofrimento.
sentimentos dos quais não estamos imunes,
compõem o ser.

walter salles resgata o afeto
perdido diante de um cotidiano
tenso, automático.
através de novas geografias,
novas visões e da difícil tarefa de
se colocar no lugar do outro

10 comentários:

  1. Genial! Referências mil de quem conhece nuances de cada diretor... :)

    ResponderExcluir
  2. As figuras de estilo cinematograficas me escapam de qualquer comparação, uma concordância imagética assim como a verbal também, no entanto leio imagens desde sempre,e tenho apreço por aqueles que se deixam levar pela leitura...Lasse Hallström me leva a "Minha Vida de Cachorro"!

    ResponderExcluir
  3. fantástico poema, meu amigo :)

    grande abraço
    jorge

    ResponderExcluir
  4. Muito bom, adorei o resultado final! Agradeço pela oportunidade de participar desse projeto. Abraços.

    ResponderExcluir
  5. Sensacional poema, quem é cinéfilo e conhece os diretores, certamente se identificará, estão de parabéns pela excelente idéia! Continuem assim...abraço!

    ResponderExcluir
  6. E maravilhoso seu conhecimento colocado assim em forma de poesia, exaltando o nosso cinema que tanto foi taxado de pornô e agora com grandes profissionais está num patamar de valor, merecido. beijos.

    ResponderExcluir
  7. valeu a visita francisco, robson, rodrigo, jorge, valvesta e nolli. mesmo com alguns erros de digitação, isso não foi levado em conta, e sim a poesia em si. gostei disso muito obrigado, e abraços a todos

    ResponderExcluir
  8. muito bom velho. to na correria, sem net e procurando aulas e emprego.

    abraço

    ResponderExcluir
  9. Muito bom o poema! Uma leitura dos que fazem a sétima arte transbordar poesia das telas!!! Parabéns aos poetas!!!

    ResponderExcluir
  10. caras,que foda! esse poema nao e apenas um poema.e uma vitamina cinematografica!um chesstudo de emoçoes!vcs conseguiram colocar grandes referencias do cine de forma muito interessante!!eis uma bela fusao decinema,poesia e visao critica!muito bom!ainda bem que estou nessa escola!

    ResponderExcluir