quinta-feira, 15 de setembro de 2011

conversa de namorados




-que a nossa felicidade é por adição eu sei, o que eu quero saber mais é do lento movimento dos planetas, da verdadeira materialidade da água, da madeira, de onde vem realmente essa coisa que ouvimos o mahler tocar, do cheiro da tangerina como diz o gullar.
-tá , chega amor! vamos mudar de prosa. e não pra edgar allan poe, por favor.
filme fome





as patas de um tigre sobre
teu almoço

nenhum grunhido de
tua boca

efeitos colaterais de
tua catarse
dilema


porra, onde eu acho uma caneca do hitchcock?
pensa ademar lendo o jornal.

não vai fazer meu café ficar mais gostoso.
muito menos estancar minhas feridas.

bah, é melhor eu ir ao mercadinho comprar um
cappuccino.

se bem que isso é coisa de burguês.

e a caneca não é?
fuga


numa bicicleta amarela ela
corre corre/ pedala/
cabelos voam/
atingem o céu

ela foge do mundo
a perda da paisagem ( bh/mg)



menininho dentro do ônibus/
a pampulha passa/
e ele chora/
risco de infância


ladeiras ladeiras
bicicletas
combinação perfeita
a rã não se contém
a um pulo-bote
na água que paira
presságio de tempestade


lá fora o
vento
usa as folhas
pra falar
um átimo:
a pétala de um ipê ao vento
até o chão
insistência



fez
desfez fez
fez desfez
desfez
fez fez desfez
desfez ...
a cama depois que ela se foi
alísios quase visíveis
na manhã cinzaclaro -
ela treme o queixo

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

miniconto

jogou a toalha molhada mas errou. acertou a cunhada absorta na
novela das 8. atravessou a rua. não voltou. na varanda, elas em
silêncio, lembram dos passos brincalhões, principalmente em dias
nublados.

isaias de faria

quinta-feira, 26 de maio de 2011

poema que Ronaldo Pereira fez em cima de uma foto minha


Fogo.

Fogo, consome o céu
Alastra num rastro estupefato,
O delírio fátuo, que num rastro
Me arde em fel.
Um alabastro, perfeito astro,
Me eleva a alma.
Leva, lava em fúria minha injúria
Que corrompe em penúria
pranto aberto num pulso perpétuo
o sangue que escorre do mais franco
e fúlgido fogo no céu...
Leva, lava corrompe minha alma
o horizonte vermelho em chamas no céu;
O olhar sedento, o pranto desatento
a lamúria no horizonte um Véu;
Escreve na poeira levantada na memória
Que o peito, cárcere em glória, eu descrevo
e escrevo, Minha história eu mesmo faço...




poema:Ronaldo Pereira
fot:isaias

domingo, 22 de maio de 2011

Alessandro Aued está ilustrando alguns poemas meus





presságio de tempestade:

lá fora o
vento
usa as folhas
pra falar




ilustração: Alessandro Aued - http://www.flickr.com/photos/alessandroaued/ - ou é só clicar no link aí ao lado
poema: isaias

Poema meu ilustrado por Alessandro Aued






fotografo você ignorando o
tempo
o nexo dele e a vida inteira

descontraidíssima, deixa-se

as mobílias observam o
olhar longitroante teu







ilustração: Alessandro Aued - http://www.flickr.com/photos/alessandroaued/
poema:isaias

segunda-feira, 16 de maio de 2011

poema sem título


se os espectros de
marcel proust
estivessem
nessa
biblioteca noturna
seriam muitos

e falantes
imagino

nunca li Proust

o pior é isso





poema e fotoexperiência: isaias

sexta-feira, 13 de maio de 2011

domingo, 8 de maio de 2011


está prenha de caos
prumo extinto
terra coberta de asfalto





haicai e foto:isaias
obs: essa foto é da cantora mônica salmaso numa apresentação na ufmg

quinta-feira, 5 de maio de 2011

8 perguntas construtivasdesconstrutivas para cássio amaral


filtro do fotoscape em cima de uma foto do cássio amaral




1-O que faz um texto ser poesia?

Vida e vivência. Vida e vivência trazem poesia junto com uma potência única que é o olhar de cada um que se propõe a fazer poesia. É interessante dizer que poesia não tem nada a ver com beletrismo, mas é uma beleza ímpar que está na música, nos grafites, nos néons, nas telas de pinturas, no cinema, na dança, na fotografia, no teatro.
É complicado definir poesia em si,mas poesia é sobretudo transgressão e meditação no meu entendimento. Uma trepada entre o Zen e o Rock and Roll.

Vi recentemente a entrevista de Eduardo Galeano, que escreveu As veias abertas da América Latina na TV CULTURA, ele falava da perda do cachorro dele, da saudade disso, da amizade com seu cão. Tínhamos um cachorro quando viemos para o litoral de Santa Catarina, o interessante na fala do Galeano é que todos temos sentimentos, e isso é o que traz poesia, um texto só é poesia quando se tem além de domínio de linguagem sentimento. Mas não é só sentir e rimar limão com coração. É muito , muito além disso, é trabalho árduo, é jogo de palavras. Para um texto ser poesia ele tem que engolir a aurora como Manoel de Barros disse num de seus poemas, ou ser a liberdade da nossa linguagem como Leminski citou também. Mas ainda é conseguir entrar no sol e de lá do sol emitir faíscas, raios num mundo tão duro e embrutecido pelo consumismo exarcebado e egoísta. Um texto é poesia quando nos supera, quando nos toca, quando nos bate. É o gozo que temos diante de algo que nos transcende.



2-Usando uma frase do Aristóteles: “infere-se que não deliberamos a respeito dos fins, mas a respeito dos meios” relacione pra gente, por favor, o seu fazer poético com a frase para que possamos (se é que é possível, creio que não mas...) chegar perto da essência da sua poesia..

Mistura, simbiose, miscigenação, links com hipertexto, haikai, zen, surrealismo e psicodelismo em alguns poemas e contos. Fotografia, retrato de contexto que vivo e vivencio.


3- O que é Deus?

É o sêmen que nos fez, a vida, a arte, em tudo. Deus é o cisco sentado no banco da praça. É o sol. É prática do bem, fraternidade, humanismo. Deus é o amor fraternal, a razão fora de religiões. É a praticar o bem, sem necessariamente precisar de um templo, de uma MECA, de fundamentalismos baratos para matar ou morrer.
Enfim, Deus é você, eu , todos, por que temos a mesma essência, apesar que alguns se descarrilham na trajetória.

4-A Arte vale por si só ou ela vale-se de algo?

Vale-se de alma, de essência, de vida, por si só a arte banaliza-se.
A arte vale na medida do valor que damos a ela, no meu caso ela é sagrada, é algo que não tem preço. É como no filme do Modigliane, quando o Modigliano recusa-se vender o quadro dele para um ricaço, só porque o ricaço queria um quadro em casa.
A arte vale-se de potencialização de vida. Uma potência que é a transcendência, uma coisa que se chama verve. A verve no artista no olhar que ele tem do mundo.

5-Tive acesso a uma frase do Hegel a alguns anos e ela nunca mais saiu da minha cabeça:”a única lição prática da História é que ninguém aprende com lições práticas da História”. Gostaria de saber de você, como professor de História e questionador do mundo, até que ponto isso pode ser admitido?

O domínio sempre aconteceu e acontece no mundo. O ser humano tem memória, mas infelizmente essa memória parece que se perde no tempo e espaço, principalmente no nosso país. O que vale é o vivido, pode ser admitido quando somos egoístas, quando não vemos os outros, quando somos ludibriados e vilipendiados, assim como os países “ricos “ dominam os outros e justificam esse domínio como um bem comum à própria humanidade.

6-Considerando que os poetas são alienados a várias coisas, não fazendo deles seres nem piores nem melhores, fale-nos sobre a transferência artística e alienação dos poetas.

A alienação as coisas ruins , as guerras, as violências é algo positivo para os poetas, mas toda alienação é ruim. A transferência artística dessa alienação é ver algo bom ainda, a beleza, a essência, a produção do contexto que se vive dentro da poesia.

7-quais os escritores, poetas, ou artistas em geral da atualidade que você considera como sendo admiráveis a ponto de citar? (não vale os que você conhece. Somente os que você nunca trocou uma palavra)

Pergunta difícil.
No sudeste sou admirador de muitos amigos que são poetas , escritores, músicos, artista plásticos, dramturgos e artistas em geral.
Citar é complicado, mas vou citar o Rubens da Cunha daqui de Santa Catarina, o Jorge Vicente de Portugal, Henrique Pimenta de Mato Grosso. Bom, o Ítalo Puccini de Jaraguá do Sul. Me desculpe, citar é complicado demais, acabamos pegando nisso.


8-A política está um escândalo só. Ou melhor, inúmeros escândalos. Ontem mesmo o diretório nacional do partido do PT aceitou o retorno do ex-tesoureiro Delúbio Soares, um dos envolvidos no mensalão. Estamos todos mesmo de braços cruzados frente a isso como bons subversivos de meia-pataca? Será que existe mesmo algum ostracismo mais prolongado na política do Brasil?

Sim existe, precisamos acordar, ter mais atuação, sermos mais cidadãos, algo como mobilização, sairmos ás ruas para bater panelas, cobrar de nossos políticos. Tira-los do poder quando existir mensalão, dizimão, cuecão, meião, é necessário lutarmos para a prática da lei, da punição, somos subversidos de meia pataca,mas ainda podemos agir, mobilizar. Penso na mobilização, embora isso não ocorra muito hoje. Mas é necessário voltarmos às ruas. A mudança mesmo só vai vir de nós. O Brasil sempre foi corrupto, um país extremamente rico e o povo ganhando o que ganha. Isso é inadimissível, precisamos agir, só a ação faz algum sentindo com relação a política, mesmo que seja através de abaixo-assinados e movimentações nas ruas, nas câmaras de vereadores, câmara dos deputados e senado.
Temos que cobrar dos políticos sim,mesmo que a mudança seja lenta,mas ela precisa acontecer. Veja o professor que é minha classe. É um absurdo o que ganhamos. O Brasil precisa investir em educação e parar com toda essa demagogia que sempre houve. A educação é o gargalo da mudança nesse país, de forma séria e sem demagogia como é feita hoje.

sábado, 30 de abril de 2011

titane na ufmg


foto:isaias

poema de haroldo de campos


Tristia


minicâmaras térmicas
para inativação do vírus da
tristeza
em borbulhas de
citros



CAMPOS, Haroldo de. A educação dos cinco sentidos: Poemas. São Paulo: brasiliense, 1985.

poema de duda machado

Imitação das coisas

Vamos, dedique-se por inteiro
às aparências, às coisas propriamente
ditas. Procure frequentá-las,
trazê-las para dentro de si mesmo,
incorporá-las dia a dia,
a cada instante,
por mais irrisório/absurdo que pareça.

Pode ser, no entanto, que você
não resista o tempo todo
e, de vez em quando, se afaste
da consistência das coisas
e se deixe levar
pelo hábito de transformá-las
em encantamento ou profundidade.

Não se perturbe. Ao persistir,
voltaremos mais uma vez a elas,
imperfeitos e concentrados
- como no amor -, decididos
a alcançá-las, embora adivinhando,
e já pouco importa, que ainda
não estamos preparados.



MACHADO, Duda. Margem de uma onda. São Paulo: Editora 34, 1997.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sorte (um poema de Hermann Hesse)




estou lendo o romance "O Lobo da Estepe", do escritor alemão Hermann Hesse, então resolvi postar um poema dele aqui.



Enquanto vives perseguindo a sorte,
não estás pronto para ser feliz,
ainda que seja teu o que mais queres.

Enquanto te lamentas do perdido,
e tens metas e não te dás descanso,
não podes saber o valor da paz.

Só quando a todo anelo renuncias,
sem objetivos nem desejos mais,
e já não dás à sorte qualquer nome,

já a maré dos eventos não te atinge
o coração, e se acalma tua alma.

(de “Música da Solidão”, 1915)

domingo, 24 de abril de 2011


p/ Cássio Amaral

Da floresta escura um
Clarão ao longe revela
Que o audaz cavaleiro se aproxima.


Ouve-se a trova.
Nenhuma força pode segura-lo:
Seu cavalo chama-se poema.






poema e foto: isaias de faria

terça-feira, 19 de abril de 2011

limite


tudo depende
do que você espera?


tudo depende
porque a gente
depende?

tudo pode esperar porque você
pode esperar e tudo depende
do que a gente pode
esperar?







poema e foto: isaias

quarta-feira, 13 de abril de 2011

XLIII

Um poema de Rafael Nolli


30/05/03


A poesia refugiou-se, não morreu. Incompleta, fragmentada, ela está borbulhando no mais profundo caldeirão de idéias: no peito do poeta, na voz do povo, na mais sangrenta terça-feira ou no débil gemido de uma criancinha ferida na escada.

Basta beber na fonte certa, desobstruir o obstáculo certo, delimitar e repensar os caminhos certos.

Despudorar: se o verso anunciar um hecatombe, dar ao povo, em anúncio não misericordioso, o hecatombe. Revoltar: se o verso exigir uma revolução, dar a todos a chama, o estopim, a ordem.

A poesia refugiou-se, não morreu. Ela se arma na mais verde floresta, na mais longínqua vontade, no mais profundo desejo: ela ressurgirá como um afogado de três dias que vêm à tona para feder.






* do livro Memórias à Beira de um Estopim




por L. Rafael Nolli

segunda-feira, 11 de abril de 2011

UM POEMA-SINOPSE PARA O FILME “CÃO SEM DONO” de BETO BRANT




UM POEMA-SINOPSE PARA O FILME “CÃO SEM DONO” de BETO BRANT

duas perspectivas:
a dele, aleatória, ou
sem palmas ao desejo

a dela, cheia de asas rumo
sabe-se lá aonde

se olham num apartamento
entre poucos móveis e um
vira-lata clássico

a esperança e a dor universal
perpassa-os ali




poema:isaias de faria

domingo, 3 de abril de 2011

conto

Bia e Miloz são amigos desde os 12. Agora, com 38, quase não se encontram.
Miloz é meio baixo, tronco largo, sisudo quase sempre.
Bia tem voz suave, pausada, doce como a própria aparência da face, cabelos curtíssimos, olhos grandes e negros.
Bia trabalha no TRE.
E Miloz lá está perdido, mas encontra o guichê e:
- Que surpresa, Bia! Vim aqui pra...
-Já sei, miloz, te conheço, “pra poder participar da farsa eleitoral”.
-é, mas amadureci um pouco, sei elaborar melhor as ideias. Antes era jargão decorado mesmo, como esse que você citou.
-Tô brincando, vejo que você amadureceu, até pelo modo de se vestir.
-Esqueça! Depois do expediente podemos sair. Tanto tempo sem nos vermos né?
Passava das 23h, os dois já estavam na décima rodada e precisariam acordar bem cedo. Mas Bia bebia e balançava a cabeça, o pescoço, os quadris, o corpo todo em sintonia com a música frenética, e falava ao mesmo tempo de toda aquela euforia:
- Será que a dança é algo pra fazer a gente não se envelhecer?
- Essas músicas do Franz Ferdinand convidam para movimentos de braços e pernas, não?
- É... acho que você concorda comigo.





isaias

quinta-feira, 17 de março de 2011

2 haicais


antiga pasta brancocinza
manchada de café -
guardam haicais



*************************



Perco-me muito
e só me encontro
num átimo de segundo





haicais e foto: isaias

terça-feira, 15 de março de 2011



o poeta ricardo aleixo junto com outros artistas estão com esse belo e criativo projeto. bh precisa disso.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

impasse


quando

o silêncio

assombra

a palavra

que pensei

não sei

se insisto

em dizer

o perdido

ou se hesito

ante o risco

de me perder

outra vez





poema: maria esther maciel
foto: isaias

PRODÍGIO - poema de charles simic


Cresci dobrado sobre
um tabuleiro de xadrez.

Adorava a palavra check-mate.

Todos os meus primos pareciam preocupados.

Era uma pequena casa
perto de um cemitério romano.
Aviões e tanques
sacudiam o vidro das janelas.

Um professor de astronomia reformado
ensinou-me a jogar.

Isto deve ter sido em 1944.

No tabuleiro que usávamos,
a tinta estava quase lascado
nas partes pretas.

O Rei branco estava em falta
e teve que ser substituído por.

Disseram-me, mas eu não acredito
que nesse verão testemunhei
homens pendurados em postes telefónicos.

Lembro-me da minha mãe
vendar-me muito os olhos.
Ela tinha um modo de enfiar a minha cabeça
de repente sob o seu casaco.

Disse-me um professor que no xadrez,
os mestres também jogam de olhos vendados,
os maiores deles em vários tabuleiros
ao mesmo tempo.

(1980)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Moacyr Laterza


Sentindo-a sempre junto e ausente.

Jamais completar o enleio de seus braços.

E nem das fontes invioláveis de seus olhos,

sofrer o travo mais fundo.



Ter o pórtico e a perspectiva do mundo,

o perfil de seus erros,

os descaminhos do sonho.

Nunca porém de seus ermos medonhos,

O desamor de seu saibro mais fundo.



Caminhar como se não caminhara,

a revolver no desolado lanço dos passos

a incerteza derradeira que nem sonhara.



poema:Moacyr Laterza

o filósofo e poeta Moacyr Laterza. Ex-professor da UFMG, onde também se licenciou em filosofia, Laterza foi um intelectual de larga influência nos meios acadêmicos e culturais de Minas Gerais.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

PAISAGEM COM FRUTAS


poema de MARIA ESTHER MACIEL

***************

Duas peras sobre a mesa

esperam a tua fome.

O dia é verde

e o vento tem cores provisórias.


Sobre o muro

um pássaro mudo

de olhar escuro

perscruta a tua sombra


Ele sabe

que ninguém sabe

em que azul

ocultas

teu absurdo.





MARIA ESTHER MACIEL é poeta e professora de teoria da literatura na UFMG
É autora dos livros: Dos Haveres do Corpo (poesia, Ed. Terra, 1985), As vertigens da lucidez: poesia e crítica em Octavio Paz (ensaio, Ed. Experimento, 1995); A dupla chama: amor e erotismo em Octavio Paz (ensaio, Ed. Memorial da América Latina, 1998); Triz (poesia, Ed. Orobó, 1999); Vôo Transverso: poesia, modernidade e fim do século XX (ensaios, Ed. Sette Letras, 1999); A memória das coisas (ensaios, Ed. Lamparina, 2004), e O livro de Zenóbia (ficção, Ed. Lamparina, 2004).

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Composição fotográfica 2 / poema


a poesia
é um
ato solitário
(mesmo com suas múltiplas matérias-primas)

é verbo errante

destino numa bacia com
lágrimas e sorrisos

sumindo, vazando

entre as mãos





foto e poema : isaias

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Composição fotográfica 1



... Composição fotográfica é a ordem dos elementos, do primeiro plano e dos motivos secundários, é também a qualidade estética...


foto : isaias

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011





sem email
mande telepatia
por inteiro







haicai : cássio amaral
foto : isaias (da peça : contracapa - balet jovem do palácio das artes)

domingo, 23 de janeiro de 2011

miniconto. republicando com uma pequena modificação


O bar era perto. Passava das 23h. Os dois precisariam acordar bem cedo mas, bia bebia e
Balançava a cabeça, o pescoço, os quadris, o corpo todo em sintonia com a música frenética, e falava, e gritava, e repetia ao mesmo tempo:
-Será que a dança é algo pra fazer a gente não se envelhecer?
Ele ficara todo o tempo sem dizer nada, com os olhos fechados, rodopiando no compasso da velha amiga que, sorrindo, passaria a pensar naquilo pra sempre.
Naquele momento ela sussurra maliciosamente bem pertinho de sua orelha :
- É... acho que você concorda comigo.

dudu lima tocando com stanley jordan no palacio das artes
foto : isaias

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Miłosz


Os meus ouvidos escutam cada vez menos as conversas, os meus
[olhos enfraquecem, continuando porém insaciados.

Vejo as pernas delas de mini-saia, de calças,
[ou de tecidos vaporosos,

Espreito cada uma, os seus rabos e coxas, pensativo,
[embalado por sonhos porno.

Ó lascivo velho jarreta, estás com os pés para a cova
[e não para os jogos e brincadeiras da juventude.

Mas não é verdade, faço apenas aquilo que sempre fiz,
[compondo as cenas desta terra, movido pela
[imaginação erótica.

Não desejo justamente estas criaturas, desejo tudo,
e elas são como um sinal de convívio extático.

Não tenho culpa de sermos feitos assim, metade de
[contemplação

desinteressada e metade de apetite.

Se depois de morrer for para o Céu, lá, terá de ser como aqui,
apenas hei-de livrar-me dos sentidos entorpecidos
[e dos ossos pesados.

Transformado em puro olhar, continuarei a absorver
[as proporções
do corpo humano, a cor dos lírios, a rua parisiense
[na madrugada de Junho.
Enfim, toda a inconcebível, a inconcebível pluralidade
[das coisas visíveis




Czesław Miłosz (poeta polonês)

pasternak


Ser famoso...


Ser famoso não é bonito.
Não nos torna mais criativos.
São dispensáveis os arquivos.
Um manuscrito é só um escrito.



O fim da arte é doar somente.
Não são os louros nem as loas.
Constrange a nós, pobres pessoas,
Estar na boca de toda a gente.



Cumpre viver sem impostura.
Viver até os últimos passos.
Aprender a amar os espaços
E a ouvir o som da voz futura.



Convém deixar brancos à beira
Não do papel, mas do destino,
E nesses vãos deixar inscritos
Capítulos da vida inteira.



Apagar-se no anonimato,
Ocultando nossa passagem
Pela vida, como a paisagem
Oculta a nuvem com recato.



Alguns seguirão, passo a passo,
As pegadas do teu passar,
Mas tu não deves separar
Teu sucesso do teu fracasso.



Não deves renunciar a um mínimo
pedaço do teu ser,
Só estar vivo e permanecer
Vivo, e viver até o fim.





boris pasternak (poeta russo)

domingo, 9 de janeiro de 2011

poema


Um pouco
Da estrada cheia de
Algoz

(Pensa a dias nisso)

Vibra sua boca silente

Da ponte

Passar

Comboios de
Tudo que deixou









foto e poema : isaias